Fiquei três anos em Namapa, e embora que nunca serei macua, pensei dela como minha casa. Percebi, afinal, que não precisava de ser macua para fazer minha casa lá. Somente precisava de ser humana. As pessoas com quêm vivia agirem como minha família e senti conectada da vida onde estava. Vinha de um mundo e fiz parte dum segundo. E a final das contas, os dois mundos eram mais parecidos que diferentes.
Sentía saudades, claro, de estar onde não era estranha; onde muitos parecíam como eu e muitos tinham crescido como eu. Tinha saudades da minha família, minhas amigas, e a vida que tinha començado. E minha família tinha saudades de mim.
Agora que estou em Evanston sinto saudades grandes da minha segunda família em Nampula e Namapa, duma vida que parece mais natural, de conversa fácil com todos, de xima, de batuques, e de dança rítmica. Mais que tudo sinto saudades do meu amor.
Talvez é isso ter conexões em duas partes do mundo: sempre ter saudades. Eu quero tudo; quero estar em dois sítios a uma vez. Por isso gosto de acreditar numa união suprema. Penso que somos todos conectados pelo mesma força e pelo mesmo ritmo que une o único mundo. Deus deve ser a força de conexão entre tudo e todos. Quanto removados parece um sítio dum outro, ou uma pessoa duma outra, percebo que ficam no mesmo mundo. Conhecimento conquista distância. E por saber isso, em qualquer sítio que estiver, conseguirei escutar aos mesmos ritmos do mundo que escuta meu amor em Moçambique. Serei uma e serei tudo. Terei tudo porque tudo é um.